ARKIVÃO

ARKIVÃO - espaço para reunir o que vou escrevendo ao longo do tempo, e que se encontra espalhado por aí; arkitectura, referências a terra de origem, divagações disléxicas; tentativa de organização, mas sem critério e por vezes sem cronologia; organização anárKica, incompleta, de conversa da treta, assinada através de diversos pseudónimos.... mas nem tudo estará aqui. Anabela Quelhas

Thursday, July 27, 2006

Sobre A. Lobo Antunes

Sobre A. Lobo Antunes
Não sou a pessoa mais indicada ou habilitada, nesta sanzala para escrever sobre Lobo Antunes - a minha formação académica é um pouco distante das áreas das letras/literaturas. Mas, aqui vai!... quem quiser acrescentar algo ou corrigir, se for o caso, à vontade!
Além da história em si, que o escritor pretende comunicar, do agrado ou não do leitor, mais ou menos imaginativa, invulgar ou corriquiera, suportada por mais ou menos referências, que se relacionam com as vivências reais ou ficcionadas por cada um de nós (aborda normalmente a guerra colonial em Angola, e as sequelas psicológicas que marcaram muitos ex-combatentes), Lobo Antunes, num dado momento do seu percurso, conseguiu romper de forma brilhante, com a escrita romanceada tradicional portuguesa (a partir dos anos oitenta).
Para mim foi amor à primeira vista!
Amor que se tem enriquecido a cada nova leitura.
Qual Saramago, qual quê!... também aprecio, mas este é incomparávelmente superior!
Conseguiu construir uma obra estéticamente diferente e original, através dos diferentes mecanismos da escrita, que ele evoca, atribuindo-lhe um lugar de grande mérito na nossa literatura contemporânea (atrever-me-ia até a chamar-lhe vanguardista). Estabelecendo um paralelo com as artes plásticas (estas coisas andam sempre de "braço dado"), poderia comparar, dizendo que a sua atitude, consegue tangenciar o desconstrutivismo na arquitectura.
A escrita de Lobo Antunes funciona como um espelho dos nossos esquemas mentais, que assistem permanentemente ao nosso pensamento, tantas vezes desfragmentado; consegue transpôr para o papel, a desorganização /confusão de pensamentos que habitam em simultâneo na nossa mente.
O nosso pensamento não é linear como um manual de botãnica! ....não se conjuga no singular; é interceptado por muitos outros, por emoções, paragens, ausências, interrogações, recordações, premonições, feed backs, paradoxos, desvios constantes no tempo e no espaço. Lobo Antunes, consegue escrever assim, ... como se pensa!
É necessário lê-lo atentamente, apesar de utilizar uma linguagem acessível e fluente, é preciso estar atento a todas as "nuances" da sua narrativa, entender as pausas, as virgulas que usou, ou não,... e deveria ter usado, as reticências, os inícios de frases em maiúsculas ou minúsculas... Toda esta forma criativa de escrever está carregada de simbolismos, de afectos, que tecem uma teia redimensionada que envolve o leitor tornando-o facilmente seu cúmplice, até atingir o seu íntimo. Nada é deixado ao acaso, tudo possui um fio condutor feito de liberdade e lucidez! O intercalar constante, a intersepção de assuntos, a descontinuidade dentro da continuidade da história principal, a repetição por vezes exaustiva de uma ideia, torna a sua escrita riquíssima e única. Reconheço a extrema dificuldade em organizar um romance com todos estes parãmetros, que não se somam, interligam-se e que no fundo traduzem uma operação tão simples e fácil, que é pensar.
Anabela Quelhas (Osíris) - editado em www.sanzalangola.com

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