ARKIVÃO

ARKIVÃO - espaço para reunir o que vou escrevendo ao longo do tempo, e que se encontra espalhado por aí; arkitectura, referências a terra de origem, divagações disléxicas; tentativa de organização, mas sem critério e por vezes sem cronologia; organização anárKica, incompleta, de conversa da treta, assinada através de diversos pseudónimos.... mas nem tudo estará aqui. Anabela Quelhas

Thursday, September 14, 2006

a cadeirita

A cadeirita de fitinhas das esplanadas de Luanda
Ao folhear uma revista sobre mobiliário (que não era da Ikea - tem um pouco mais de qualidade, o que não é difícil) deparo com o desenho de uma cadeira de exterior (patio chair), que é, nem mais nem menos, a cadeira das esplanadas de Luanda.
Estrutura metálica e metros e metros de fita plástica colorida, que preenche o espaço destinado ao utilizador, de forma mais ou meos ergonómica e arejada.
Lembrei-me das esplanadas repletas daquelas cadeiras feitas em série, fabricadas não sei onde, verdes, azuis, amarelas e cor de laranja, que serviram de cenário a subservientes engraxadores de sapatos, que esperavam pacientemente que os seus clientes resolvessem sentar para tomar umas loiras.
Cadeiras que permaneciam noite e dia no exterior, e assistiam resignadas à passagem atarefada, feita de idas matinais e regressos ao fim do dia, de pretos trabalhadores, ao longo das avenidas subitamente interrompidas nos musseques.
Surpresa minha, uma cadeira concebida por um designer dos anos 50! E eu que maltratava aquelas cadeiras, pois tinhamos um pacto de antipatia permanente... e elas teimavam em habitar em minha casa!
De vez em quando uma daquelas fitas rompia-se, cansada, esgotada, do peso que suportavam, ou dos sapatos dos putos indisciplinados e atrevidos, que as utilizavam como cama elástica.
Fita partida, cadeirita estragada!.... convertiam-se em cadeiras moribundas, com aspecto geriátrico, com menos duas ou três fiadas de fita, para possibilitar um inestético nó, adiando a sua ida para a sucata.
Que amores despertariam essas cadeiras aos seus fiéis e numerosos consumidores?
Por mais que olhe para a dita, não há meio de eu gostar!!!....
Anabela Quelhas

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