ARKIVÃO

ARKIVÃO - espaço para reunir o que vou escrevendo ao longo do tempo, e que se encontra espalhado por aí; arkitectura, referências a terra de origem, divagações disléxicas; tentativa de organização, mas sem critério e por vezes sem cronologia; organização anárKica, incompleta, de conversa da treta, assinada através de diversos pseudónimos.... mas nem tudo estará aqui. Anabela Quelhas

Sunday, September 10, 2006

O Beijo

O Beijo, de Gustav Klimt
Oiço Abrunhosa, embalada na cadência das suas palavras, que emanam sedução, cumplicidades, sentires profundos, capazes de criar interligações com registos visuais... e deixo-me navegar em mares de cetim....
Viagens que se perdem no tempo,
viagens sem princípio nem fim,
beijos entregues ao vento,
e amor em mares de cetim.
Gestos que riscam o ar,
e olhares que trazem solidão,
pedras e praias e o céu a bailar,
e os corpos que fogem do chão.
...enquanto escrevo, sobre o "O Beijo" de Gustav Klimt (1862 - 1918 pintor simbolista austríaco), grande tela pintada em 1908, uma das obras mais sensuais da história da pintura. Representa o símbolo de união.
Leva os meus braços,
Esconde-te em mim,
Que a dor do silêncio
Contigo eu venço
Num beijo assim.
O erotismo do casal de apaixonados é transmitido através de linhas sensuais que emergem no eixo de simetria com a figura feminina.
A exploração dos desenhos decorativos das roupagens de ambos, jogando com os violentos acordes cromáticos, fazendo o contraste entre quadriláteros e circulos, num simbolismo desmedido dum jogo de sedução, inundado de dourado - antagonismo ou complementaridade?
Quero que saibas
Que sem ti não há lua,
Nem as árvores crescem,
Ou as mãos amanhecem
Entre as sombras da rua.
Curiosamente, a única parte realista desta pintura, tão subtilmente erótica, é o espaço ocupado pelos rostos.
Tenho tantos segredos
Que te quero contar
E uma noite não chega,
Diz que podes ficar.
Klimt inspirou-se na sua relação com Emile, sua namorada ou amante, e alguns críticos salientam que esta é uma mulher submissa, devido à inclinação do seu rosto, e ao nível inferior em que é representada.
Diz-se que é o homem que domina e que toma a iniciativa do beijo, e que a mulher abandona-se, o rosto é passivo, e as suas mãos crispam-se.
Enfim nós os dois,
Os teus gestos nos meus,
.... quem vai adivinhar os mistérios do amor?
Quem me dera poder conhecer
Esse silêncio que trazes em ti,
Quem me dera poder encontrar
O silêncio que trazes por mim.
A mulher aparece envolvida na roupagem masculina, num abraço apaixonado, e numa posição efectivamente inferior, mas perfeitamente equilibrada com o seu rosto, extremamente feminino e belo, sendo o único visível na sua totalidade.
eu não sei, que mais te posso dar
um dia jóias noutro dia o luar
gritos de dor, gritos de prazer
que um homem também chora
quando assim tem de ser
No amor, é tão dificil distinguir submissão, de entrega, de sedução consentida, de erotismo, de sinalética de paixão...... O beijo, aquele momento que sucede aos olhares que se olham, dialogando no silêncio.
Tudo o que eu te dou
tu de das a mim
tudo o que eu sonhei
tu serás assim
tudo o que eu te dou
tu me das a mim
tudo o que eu te dou*
O Beijo de Klimt e Mona Lisa comparam-se em relação ao fascínio que exercem, e ao seu simbolismo que nunca foi completamente descodificado.
* poemas de Pedro Abrunhosa
Anabela Quelhas (22/02/06)
editado em www.sanzalangola.com 5/03/2006

0 Comments:

Post a Comment

<< Home