ARKIVÃO

ARKIVÃO - espaço para reunir o que vou escrevendo ao longo do tempo, e que se encontra espalhado por aí; arkitectura, referências a terra de origem, divagações disléxicas; tentativa de organização, mas sem critério e por vezes sem cronologia; organização anárKica, incompleta, de conversa da treta, assinada através de diversos pseudónimos.... mas nem tudo estará aqui. Anabela Quelhas

Sunday, September 10, 2006

A arquitectura

A ARQUITECTURA
Muitos cidadãos se indignam pelo facto não entenderem os quês e os porquês que encerram certas obras de arte, nomeadamente a arquitectura. Fazem um esforço meritório de entendimento do belo ou do detestável, e a sua indignação chega por vezes ao ponto de tangência da revolta, por entenderem que lhes está a ser retirado um direito fundamental de cidadania.
Como é evidente, todos tem a liberdade de apreciar, opinar, amar, odiar, tudo e todos, onde a arquitectura implicitamente se inclui, dentro daquele principio democrático, de respeitar a liberdade dos outros.
E todo o mundo gosta de opinar sobre arquitectura!
Isso é bom!
Basta aparecer um edificio que não segue a linha do tradicional, e todo o cidadão "cai em cima" a zurzir a sua opinião, normalmente pouco fundamentada.
Nunca vi ninguém a reclamar sobre os cálculos matemáticos da estrutura de uma ponte ou de um edifício, congeminando se o coseno de Fi foi introduzido correctamente no cálculo de betão armado, ou se o método utilizado no cálculo, foi o método dos elementos finitos, ou outro mais simples.....
Nunca vi o condutor de um vulgar automovel, fazer apreciações sobre a força centrípeda ou centrífuga e a sua relação com especificidades da mecânica do veículo.
Quando adquirimos um fármaco, não questionamos o farmacêutico sobre as técnicas laboratoriais que assistiram a manipulação dos químicos.
Utilizamos electrodomésticos diáriamente e não nos afecta o facto de entendermos ou não as lei de Ohm ou de Faraday.
Porque será?
Porque será que queremos entender a arquitectura?
Seria bem mais simples questionarmos os problemas relacionados com as ciências exactas, pois as conclusões seriam mais precisas, mais lógicas, mais consentânias; e assim os cidadãos ficariam realizados e inteirados da problemática em questão, em vez de viverem essa angústia permanente das interrogações nunca respondidas.
Mas não, toda a gente quer saber, porque o edificio tal ganhou o premio x, porque um alçado "cego" é belo, qual o estilo da obra y, porque integrar não é copiar, porque um edificio apareceu implantado sem seguir os alinhamentos do vizinho, porque um edifico deve ter 5 pisos e não 7... e acima de tudo, rotular!... é feio ... é bonito! Isto demonstra bem, como a arquitectura está ligada a todos nós e como nós a consideramos importante na nossa vida. .
"...Da boa ou má qualidade da organização do espaço depende em boa parte, o bem ou o mau estar do homens; a desarmonia da organização do espaço gera a infelicidade humana..." (Arq. Fernando Távora, in A lição das constantes )
A arquitectura não é uma ciência, é um arte, e como tal, conta com aquele parâmetro de subjectividade que baralha, inverte, decompõe, deforma, reequaciona, interroga, desmembra e reconstrói todo o raciocínio matemático e tenta envolver no seu percurso, diversas áreas do saber, realizando um trabalho de síntese a partir de uma infindável série de elementos.Como é uma arte, não se esgota numa única solução, e por isso se torna difícil entedê-la linearmente.
E então como é que isto se processa?
Existe uma metodoliga de trabalho que é o grande suporte de todos os arquitectos (uns mais, outros menos hábeis em utilizá-la com sucesso), denominada metodologia projectual.
Envolve diversas fases: situação, enunciado, investigação, projecto, realização e avaliação.Todos os elementos que estão presentes na concepção de um espaço arquitectónico, dos mais simples ao mais complexos, submetem-se a esta espiral metodológica, feita de sucessivos processos de análise e sintese, que determinam decisões de recusa ou aceitação, numa dinâmica criativa e de difícil digestão para o arquitecto.
Este, o arquitecto, por sua vez, vive momentos de entusiasmo e frustração consoante a evolução do processo.
Quando se chega à fase de avaliação, se alguém pensa que certamente todo este processo acabou, desengane-se. A avaliação é realizada, como todos sabemos, soluções perfeitas não existem, e remete-nos para uma nova situação, dando início a um novo ciclo, e assim sucessivamente. No entanto é um processo que não se fecha estáticamente num circulo, evolui de forma dinâmica. Pontualmente dá-se uma finalização formal ao tal espaço arquitectónico, mas o processo continua, e reflecte-se obrigatóriamente na resolução dos problemas seguintes ou nos espaços que o arquitecto projectar a seguir.
Este método semelhante ao chamado método cientifico, é utilizado nas escolas portuguesas do ensino básico desde há 5 anos, por ser evidentemente um método de resolução de problemas, e absolutamente saudavel e aconselhavel a sua utilização por parte de todos os cidadãos. Este método, evita o resvalar para o caos, para a alienação, para o inexplicável, o insustentável e o gratuito, define um rumo orientado pela lógica, supervisionado pela criatividade, clarificando interrogações, fomentando a pesquisa, interligando-a com o mundo real e incentivando a procura do belo e do perfeito.
Mas perfeito só Deus, e nem sempre!
Anabela Quelhas
Editado em www.sanzalangola.com em 27/02/2006

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