Porque gosto de Mestre Cargaleiro*:
Cargaleiro traduz a pintura num exercício abstracto, reproduzindo referências geométricas a luminusidades familiares dos portugueses. Os recticulados coloridos fazem-me evocar os painéis de azulejo que tantas vezes ignoramos nas nossas cidades, mas que lá estão a testemunhar a nossa ligação ao mundo árabe, e que retemos no subconsciente através da subtileza do reflexo da luz.
Gosto da teimosa permanência do azul que atravessa toda a sua obra, nunca se tornando monótono, mas sim dando reforço e unidade aos ritmos, aos movimentos e segundo os quais organiza os espaços na composição.
Gosto do azul capaz de aceitar constrastes apaixonados com o vermelho. O vermelho vibrante, que ensaia a sedução com todas as outras tonalidades, despertando o sonho e a fantasia. Sedução através de linhas geométricas?
E porque não?
Um dia agarrei nos meus pincéis e tentei copiar assumidamente uma obra de Cargaleiro, para melhor a interiorizar.
Adorei procurar e descobrir as diversas tonalidades de azul, constatei o seu grande rigor e lúcidez no raciocínio geométrico, a exploração apaixonada de quadriláteros no emaranhado de sentimentos que os assiste, e de onde resulta a sedução, a beleza e a harmonia.
Trilhei o caminho de sucessão de linhas e formas, por vezes recorrendo a medições e cálculos matemáticos, para confirmar a orientação a seguir.Umas vezes tinha a necessidade de parar e observar o que pintava a uma certa distância, deixando-me invadir pela essência do azul evanescente. Outras vezes apetecia-me perder-me nas ruas de uma cidade para apreciar por analogia efeitos cromáticos e o sabor da liberdade.
Até que cheguei ao vermelho!
Sim vermelho !... nunca encarnado!
Osíris (Anabela Quelhas)
* Manuel Cargaleiro - pintor português contemporâneo, há muito radicado em Paris
1 Comments:
podem-me dizer o nome do quadro??
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