Duas Paisagens
Marco Polo Guimarães
Esta cidade que se alargaem leque azul de seda e laca,
em girassóis de ouro e brasa,
em ventanias desatadas;
esta cidade que se alargaem mangue cinza e praia acesa,
em manga aberta sobre a mesa,
em moça aberta sobre a cama;
esta cidade que se expandeem praça,
várzea e avenida,
em superfícies, cromo e vidro,
em rios de sombra em margens nítidas;
esta cidade que se dilata
em cores rubras quaisquer que sejam,
em flexíveis linhas de frutas,
em rijas tramas de sal e fibra;
esta cidade que se amplia
em rol de roupa branca corando,
em vila branca no horizonte,
em asa branca cortando a tarde;
esta cidade que se alagade sol, se espicha, se espreguiça,
se vira ativa, brinca e grita,
quando chove muda,
fica muda;
esta cidade se limita;
a chuva a prende em barras finas
e instransponíveis, em barras michas
e frias;
prisão que a descolore toda; esta cidade na chuva
torna-se contrátil, ostra viva
fechada; pequena, cubículo,
o homem a habita aos pedaços
e por etapas, tateando cego,
temendo abismos, correndo riscos
na rua riscada de finitos;
esta cidade que empaca, fica
implástica, imóvel, impossível;
submersa, mantém o homem
entre paredes, galochas e capas
contido; se cessa, se cerra,
se cerca, se caça, se embaça
numa dura cerração líquida
que e liquida, ínfima; caracol
sem saída; paralelepípedo
derretido; vento oleoso;
serpenteante serpente de pano
enlameado; em farrapos,
a cidade nem mais é; é só
uma caricatura anônima grafada a
carvão no muro de um terreno
baldio, onde ratazanas escondem
restos de sombras manchadas de giz.
Poema inédito em livros. No CD Plataforma para a Poesia
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