Osiris:
Apesar de não ser especialista no assunto, gostaria de colocar uma opinião.
A arquitetura pode e deve ser entendida como uma atividade associada à arte. Talvez uma arte um pouco diferente, já que não se prende apenas a questões de natureza estética.Tenho para mim que, o dificil é mesmo conseguir-se obter uma harmonia estética ( no contexto artistico propriamente dito ) compatibilizada com a utilidade e o bem estar do usuário final do produto que resulta da arquitetura e já agora, do urbanismo.
Assim é que neste enfoque, muitas vezes deve olhar-se a arquitetura, tal qual qualquer outra manifestação cultural e artística, no âmbito da eventual prioridade para a sociedade em geral.
Sei que posso estar suscitando controvércia, mas a realidade é que em Luanda ( tal qual em outras cidades ) subsistem questões básicas de urbanismo que para mim,ultrapassam, em muito, a simples questão estético/artistica. Refiro-me a problemas que vão da coleta do lixo ao esgoto ( tive a experiência de ver como Luanda ficou após uma forte chuva em termos de esgotos e dejetos pela rua, misturado com a lama e lixo ), entre tantos outros, que estão por resolver e, obviamente, exigem investimentos vultuosos, vis a vis, a necessidade de preservação de determinados prédios com interesse histórico.
Será que vale a pena priorizar a preservação de determinado edifício e ao mesmo tempo deparar-se com um "submarino estranho" flutuando na ponta da ilha bem perto de nosso rosto enquanto nadamos numa água, só aparentemente limpa? Claro que se os recursos forem suficientes deve-se olhar todos os lados, mas e se não acontecer isso? O que priorizar?
Amiga. Acho que o que começaste a colocar em termos de qualidade de vida, nas tuas últimas mensagens é o que realmente importa. Eu quero é saber quantas casas poderão passar a ter água canalizada e tratada. Eu quero é saber sobre a redução da mortalidade infantil como resultado de melhor qualidade de habitação, atendimento médico e saneamento.
Talvez estejam achando que estou radicalizando. Provavelmente sim. Perdoem-me o desabafo.
Em termos arquitetônicos aliás, em Luanda, tirando os "caixotes" dos espigões em construção, ficou-me na memória a linda casa ( vila? ) construida, salvo erro pelo presidente, ou pela filha poderosa, no Miramar com uma linda vista para a Baía. Fabulosa em todos os sentidos.
Um abraço
Fernando Quelhas
O urbanismo, a arquitectura, a saúde, a economia, o ambiente, e muito + dependem em 1º lugar da vontade polítca de construir algo positivo!
O urbanismo é uma área que logicamente mexe em muitos interesses, estuda a transformação das cidades e aponta soluções para problemas de organização e planeamento de território, mas prevalece sempre o interesse do poder instituído, que se serve dos técnicos do urbanismo e não só, para almofada de certas incongruências e desrespeito por certos compromissos assumidos perante os cidadãos.
É confortável e fácil atirar a culpa para o urbanista. Acho que estamos todos de acordo, que prioridades são proridades e ponto final! No entanto as respostas às prioridades que obrigatóriamente têm de ser executadas, para atender às necessidades básicas de todos, devem ser bem planeadas, pelos a médio prazo, para resultar em algo positivo e racional. Se não for assim, passamos a vida a "fazer e a desfazer" - atitude que se desenha sempre mais dispendiosa, certamente!
A arquitectura, é uma área artistica (sempre foi), mas não superflua. Pelo seu conteúdo, relaciona-se com tudo o que diga respeito às pessoas, e à forma de habitar e viver o espaço.
Beleza, funcionalidade, economia, sociologia, ergonomia e ambiente, não podem viver zangadas, de costas voltadas, ignorando-se mutuamente! É dificil conciliar interesses? Claro que é! Soluções perfeitas não existem!... já é bom estar-se no caminho certo, lutar o mais possível pelo direito à dignidade de cada um, e, não optar por atalhos fáceis, com consequências não planeadas ou imprevisiveis, que afetam todos.
Voltando ao património - é importante, desenvolver nos cidadãos, o conhecimento e depois o amor pelo património das suas cidades - lutar por ele (veja-se o exemplo dos holandeses) - sejam elas, Luanda, Londres, Rio de Janeiro ou Xangai. O património arquitectonico, é uma referência cultural de todos, só que é muito mais fácil preservar mùsicas, objectos, danças... ocupam pouco espaço, e não interfere com tantos interesses financeiros. Especificamente, importa "moldar" consciências e desenvolver vontades, por forma a evitar que se cometam atrocidades em nome de falsos progressos, inseridos nesta sociedade de consumo global.
Fernando e Tomás, o "belo" não tem que ser obrigatóriamente dispendioso, nem pular por cima dos direitos fundamentais do ser humano.
Penso que estamos de acordo.
Um abraço
Anabela
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