ARKIVÃO

ARKIVÃO - espaço para reunir o que vou escrevendo ao longo do tempo, e que se encontra espalhado por aí; arkitectura, referências a terra de origem, divagações disléxicas; tentativa de organização, mas sem critério e por vezes sem cronologia; organização anárKica, incompleta, de conversa da treta, assinada através de diversos pseudónimos.... mas nem tudo estará aqui. Anabela Quelhas

Tuesday, August 22, 2006

anjos e mamíferos


Nota prévia - HB - sigla do kandengue. Qualquer semelhança com características de minas de riscar, não é defeito profissional, é mesmo pura coincidência.

HB era criança, entre o bébé e a idade escolar, e a mãe - eu - cheia de vontade de concretizar aquela teoria, que afirma, que as crianças têm uma inesgotável capacidade de aprendizagem, mesmo antes de irem para a escola.
Assim, quando estávamos juntos, eu ensinava-lhe mil e uma coisas! A hora do banho era sagrada! Repetia-se o ritual, dos bonequinhos na banheira, e repetia com ele, tal como uma lenga-lenga, a listagem dos mamíferos, aves, répteis, insectos, peixes e batráquios!
...por essa época, indo passar uns dias de férias de verão, na nossa casa de campo, que temos a sorte de possuir no chamado "Portugal profundo", o HB manifesta vontade de integrar uma procissão religiosa, que na aldeia fazem anualmente.
Atenção que o HB nem sequer sabia o que era uma procissão, já que a sua vivência sempre se desenvolveu um pouco distanciada dos cultos religiosos ....ouviu falar os amiguinhos mais velhos lá da aldeia, que preparavam antecipadamente o acontecimento, e cheirou-lhe a algo divertido, e desconhecido - agradou-lhe!
Nessa aldeia, existe o costume de vestir as criancinhas de figuras religiosas (anjos, santos e santas) para construir a tal procissão.
Uns dias antes, foi necessário levá-lo à casa que alugava o vestuário adequado, para tal a representação - para o HB escolher o que queria, e adaptar às suas pequenas medidas.
Perguntaram-lhe qual a roupa que desejava. HB desconhecedor do estilismo religioso, estava indeciso, ou melhor, sabia lá ele, o que queria!
Levaram-no para a sala de provas e passearam-no pela mão, por diversos expositores com muitos cabides vestidos e respectivamente aderessados, explicando-lhe a que santinho pertenciam.
HB sentia-se indeciso e perdido, pois aquilo era um mundo completamente abstracto para ele.
Sugeriram-lhe para ele se vestir de anjo!
- Olha vais de anjinho que é tão bonito, todo de branquinho!!!
....HB quis saber bem o que aquilo era, pois ia vendo só túnicas, vestidos e mantos... abandonar os seus calções, estava a perturbá-lo!
- O que é o anjo e a roupa dele? pergunta HB.
- Um anjo leva uma túnica branquinha e tem duas asas .....- responderam-lhe as simpáticas senhoras.
HB rejeitou de imediato! Asas? Asas não! Não, não podia ir de anjo, pois era mamífero e os mamíferos não tem asas, nem bico, portanto anjo, definitivamente, não! Estava fora de questão!
Moral da estória - nem sempre o conhecimento científico trás felicidade, às vezes transforma-se em factor inibidor de experiências. Quem sabe se HB tinha destino já traçado neste mundo de anjos e arcanjos terrestres, e que acabou sendo boicotado por esta mania da mãe ensinar o que não deve?::::
Mãe Osíris (bjinhos para todas as crianças do mundo)

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