ARKIVÃO

ARKIVÃO - espaço para reunir o que vou escrevendo ao longo do tempo, e que se encontra espalhado por aí; arkitectura, referências a terra de origem, divagações disléxicas; tentativa de organização, mas sem critério e por vezes sem cronologia; organização anárKica, incompleta, de conversa da treta, assinada através de diversos pseudónimos.... mas nem tudo estará aqui. Anabela Quelhas

Tuesday, November 26, 2019

O SILÊNCIO DO KISANJI


Uma obra que narra Angola colonial, com descrição detalhada da malha urbana de Luanda, os musseques, os cinemas e a vida social. Uma atenção especial sobre o Bairro Operário. 

(...)

Estas manobras urbanísticas ilustram bem como se controla no território, as possíveis oposições políticas, ou o nascimento de qualquer revolta popular. A técnica é o controlo, o esmagamento, o estrangulamento, a asfixia, a paralisia das vontades através do asfalto: não mata, mas imobiliza — técnica que os urbanistas de Salazar aplicaram com mestria.

Afinal há dinheiro para o asfalto do B.O.,

                                               o problema é outro.

            O museke virado para o seu interior cria a preocupação de o dividir e rasgar na sua parte central por um grande acesso, que possibilite o patrulhamento pela Polícia Militar Portuguesa, assegurando níveis de segurança aceitáveis.

            Nos anos setenta, de museke engolido passa a bairro assumido como imagem de tolerância e miscigenação, que convém a Marcelo Caetano.

            De museke esmagado passa a museke integrado na malha urbana, de certa forma planeado pela Câmara Municipal, espelho da tolerância dos portugueses e do bom convívio entre raças e origens, passando até por um bairro bem organizado para quem visualizasse apenas a planta da cidade.

            Não sonhando ainda com um google earth, só sobrevoando Luanda ou apreciando a vista (...)
in O silêncio do kisanji" de Anabela Quelhas

+++++++++++++++++

2º livro de uma trilogia que aborda a cidade de Luanda na fase final do colonialismo. Uma análise dos musseques, da vida cosmopolita, dos cinemas, da arquitectura e de lugares comuns vividos por uma adolescente com perspectiva crítica. Aqui estão as referências locais e as referências globais dos anos 60 e 70.
Envio à cobrança ou pagamento MBway.


Labels:

Tuesday, April 17, 2007

É só mais um click!

Amigo leitor:
Este blog está um pouco adormecido. Convido-o a visitar outros espaços:
http://estiradorsemrima.blogspot.com/
http://arkimagem.blogspot.com/

http://www.mardepedra.blogspot.com/
http://blogdangola.blogspot.com/

http://riskarte.blogspot.com/
http://culturalmentemja.blogspot.com/

Saturday, December 16, 2006

Inferno colonial (final)

Texto publicado em www.sanzalangola.com depois de muita perturbação causada durante uma semana pelas minhas intervenções.
Quis tomar o pulso da sanzala, com este fio infernal, certamente desconfortável e polémico... mas que tem tudo a ver connosco, diz-nos respeito!
Cumpri esse propósito e como era minha intenção, não o vou prolongar no tempo.
Alguns sanzaleiros ficaram chocados e impressionados, tal como eu, quando li de forma ininterrupta o trabalho de investigação de Ana Barradas, editado em 1995; não por desconhecimento da maioria dos factos, mas pela forma como efectuei a leitura.
Arriscaria a dizer que o tema foi apresentado pela investigadora, de forma até ligeiríssima, no entanto, talvez porque nos é dado ler, estratos de documentos, "a seco", sem explicações pelo meio, sem contextualizar rigorosamente os assuntos, sem pausas, numa cadência cronológica vertiginosa, começando no século XV e terminando no séc. XX, sensibiliza-nos profundamente, dá-nos um abanão e choca-nos!
Quem conhecer minimamente a nossa história, integra perfeitamente estes relatos na época própria, dispensando-se quaisquer outros comentários.
A sucessão rápida de registos curtos, despidos de qualquer roupagem atenuante, referida sistematicamente a fonte, em roda-pé,... que nós conseguimos abarcar na totalidade, em poucas horas de horas de leitura, reforça a crueldade dos temas - escravatura, racismo, colonização, trabalho forçado, subversão de valores, massacres, comércio negreiro, opressão, violência...- foi esse ritmo e essa cadência silenciosa que eu quis partilhar convosco, e claro observar as reacções de cada um, adivinhando algum confrangimento por que passaram, tentando compreender os vossos argumentos, interligando e fazendo comparações com outros relatos e com outros discursos!
Não me atreveria a abrir este fio, se não estivesse devidamente documentada. O livro de Ana Barradas fornece dados capazes de formar uma listagem de documentos que poderão ser consultados sobre este assunto, e o curioso é que a maioria dos documentos são da autoria de figuras ilustres, e alguns responsáveis pelo Império Colonial Português.
Aqui não se inventa nada! (*Ver no final, alguns)
O fio foi aberto num domingo às 23,49 (3/09/2006).
No dia seguinte após dez horas, já mais de 100 sanzaleiros o tinham visitado. Ao fim de uma semana, o fio já estava bastante deturpado, pois alguns membros repetem aquele espectáculo triste que nos vão habituando a ler.
No meu texto de abertura, fui clara, dizendo que não iria dialogar com ninguém, mas não me livrei de ser gentilmente apelidada de demagoga, prepotente e cobarde (perfeitamente previsível), atreveram-se até a pensar por mim e deduzir quais seriam as minhas intenções... tudo isto por usufruir respeitosamente de um direito que me assiste - só dialogar quando quero e sempre respeitando os outros.
A maioria dos sanzaleiros compreendeu a minha atitude silenciosa e respeitou-a. Alguns que me conhecem, facilmente perceberam que dentro do meu silêncio eu estaria atentíssima a reflectir sobre tudo.
Em off, iam-me chegando mensagens do tipo "Onde tu te foste meter!!!!", "Cada vez deitas mais lenha para a fogueira", "Esse fio não dura uma semana", "És doida!... SÒ TU!", "Onde é que isto vai parar? Depois queixa-te!".
Limitei-me ao meu papel de receptora, criando-me um sorriso nos lábios, a preocupação destes amigos.
Alguns, revelaram uma certa falta de paciência, pelo enfoque dado por mim a este tema, como se inoportuno se tratasse, exagerado, desenquadrado, desactualizado ou de 2ª grandeza. Outros tentaram justificar a crueldade com outras crueldades, a violência com outras violências, os erros de uns com os erros dos outros, como se o mal dos outros devesse ser o meu contentamento, manifestando subtilmente alguma irritação crescente, completamente descabida. Complacência, condescendência...em me ler, enfim... para mim nunca é demais falar/escrever sobre Direitos Humanos e denunciar atrocidades!
Não estará na hora de desmistificar a nossa história europeia feita de, conquistadores, navegadores, exploradores, missionários, aventureiros que nos enchem de orgulho, de tão exaltados que são?
Afinal de que é feito o perfil dos nossos heróis? Este foi um assunto proibido ao longo do tempo, e ainda hoje, nas nossas escolas, este lado tenebroso da história é poucas vezes denunciado, sendo frequentemente camuflado e esquecido; no entanto nós, mulheres e homens adultos, do alto da sabedoria que a maturidade nos confere, não seremos capazes de reconhecer as fragilidades do nosso passado?Nós, os descendestes de portugueses, não estamos sozinhos! Quantos arquivos fechados e de acesso interdito, existem, por essa Europa fora? Arquivos feitos da nossa história sombria! Londres, Vaticano, Viena, Paris, Berlim...
Tive que ignorar ironias infelizes, tratamentos despropositada e exageradamente "familiares", como "camarada", editadas sobre este assunto de importância maior, que ilustram bem o grau de tolerância e respeito que aqui vigora.
O feed back que me chegou através de canais de comunicação alternativos, foi francamente mais positivo. Mais uma vez se constata que há gente muito interessante e de muito valor a circular por aqui, mesmo que divergindo de mim, porém não pretende expor-se a diálogos, que por vezes desaguam no desrespeito e na agressividade, atrever-me-ia a chamar-lhes, diálogos makeiros , tão frequentes aqui nesta nossa sanzala. Todos souberam respeitar-me e certamente reflectiram sobre a violência de que a nossa civilização tem sido fabricada.
Constatei que alguns angolanos desconheciam estes documentos, ignorando o lado menos bom da nossa herança cultural, apesar de possuírem sinais de suspeição da dita.
Dizem que "da discussão nasce a luz", e alguns acrescentam, "... e a pancadaria". Aqui nesta nossa sanzala, nasce mais pancadaria virtual do que luz. É muito cómodo alimentar guerrinhas, confortavelmente sentado ao PC, jogar com as palavras, presumir, montar estratégicas do contraditório, investir na retórica de nível duvidoso, na agressão gratuita, alimentar o ego com as contradições dos outros, enfim ... libertar o stress desta nossa vida cinzenta... Há quem goste duma makinha e aproveite todos os temas para atirar com as munições sobrantes de makinhas vindas não sei de onde! Assim não há diálogo que resista, provavelmente é isso que se pretende.
Não lamento o facto de não me ter envolvido directamente no bate boca!!! Tinha que assumir uma postura silenciosa, para que o fio sobrevivesse alguns dias, pois simplesmente ler, acabou por ser uma acção difícil.
Verifico, que estes temas ainda incomodam, fazendo perder as estribeiras a alguns sanzaleiros (vá-se lá saber porque!!!??), preferindo outros, ignorá-los, maldizendo quem insiste em recordar o sofrimento de tantos seres humanos. Quero crer que serão uma minoria nesta sanzala.
Referi no meu "aviso prévio" que não tinha como objectivo "a penitência", preocupando-me em utilizar a 1ª pessoa do plural, para evitar que ocorressem interpretações de que eu não me incluiria no grande grupo de herdeiros. Nunca pretendi atingir ninguém, limitei-me a transcrever relatos de uma realidade que eu não inventei, mas de difícil digestão para todos.
Esta temática deverá unir os homens e nunca dividi-los!
Conclusões (as minhas, óbvio ):
- As pessoas manifestaram interesse pelo tema: em dez dias o fio teve perto de 2440 visitas
- O tema incomóda de facto!.
- A maioria não pretende expor-se a este género de diálogo, recorrendo com frequência a canais de comunicação alternativos.
- Não houve um único membro que se assumisse a favor da escravatura e da exploração colonial - afinal o tema une? (nem sei para que é tanta maka!).
- Algumas pessoas jogam constantemente à defesa, preocupadas apenas em defender o seu ponto de vista, que invariavelmente desagua no processo de descolonização.
- Há quem tenha dificuldade em se abstrair da sua história pessoal, para melhor analisar alguns temas, de forma imparcial e racional - o coração a tentar dominar a razão.
- Há um grande desconhecimento da nossa história.
- Alguns ainda não perceberam que nesta sanzala, cada membro tem a liberdade de escolher os temas para os seus fios.
- Alguns insistem em utilizar a ironia, de forma saudável e agradável, outros de profundo mau gosto, tangenciam a cretinice.
- Os moderadores não têm que ser totós, devem ter opinião própria, mas os seus comentários públicos devem ser racionais, inteligentes, contidos, por forma a evitar que, as posições dos membros intervenientes se extremem. Afinal os moderadores deverão servir para moderar.
- Alguns membros têm o especial prazer de abandalhar os fios por onde passam utilizando a técnica do achincalhamento gratuíto e dos subentendidos.
- Alguns entram nos fios como se entrassem no campo de batalha. Esgrimem ódiozinhos antigos e alimentam-nos.
- Outros estão mais na linha da "Paz e amor" ou "Não se fala porque é pecado", não suportando as divergências saudáveis entre sanzaleiros.
- Alguns não sobrevivem sem as citações, utilizando-as para reforçar e acentuar as divergências.
- Uns desvalorizam os adversários, outros sobrevalorizam-os...
- Alguns esquecem-se que certas "familiaridades" só são permitidas entre sanzaleiros que se conhecem na vida real.
- Alguns esquecem-se que, editar a cor vermelha é ofensivo.
- Alguns chamam-lhe luto, eu chamo-lhe reflexão (prática que tento desenvolver em continuidade).
- Alguns desconhecem que as bibliotecas públicas, são mesmo públicas, e a informação está lá disponível para todos, actualizada ou não, mas fidedigna.
- Alguns desconhecem a verdade histórica, não a querem conhecer, e nem querem que os outros a conheçam ou divulguem.
- Há uns que são tolerantes, há outros que se "xateiam à brava"; há aqueles que não resistem a uma provocação. Há os teimosos e os bem-humorados.
- Ao fim de 10 dias de "inferno", este fio está com tendência a transformar-se em arena romana.
- Consegui por a sanzala a reflectir!...
- Há um membro, que insiste naquela foto no avatar (LOLOL).
E ASSIM VAI A NOSSA SANZALA!
Obrigada a todos, pelo vosso interesse e paciência. Um agradecimento especial, àqueles que incluíram neste fio, outras escravaturas, outras violências e outros colonialismos, que nos estão mais próximos no tempo, pois todos devem ser divulgadas e ser motivo de reflexão. Até os esclarecimentos antropológicos levei em consideração; gostei de saber do Ardipithecus ramidus - serei sempre solidária com os mais fracos e oprimidos, caminhem ou não sobre duas pernas. Gostei de vos ler, a todos! Termino com uma pequena parte da introdução do trabalho referido anteriormente:
"Afirmam alguns: aquilo que hoje nos horroriza eram coisas normais naquele tempo, e a essa luz devem ser analisadas. Seria pois descabido olhar com os olhos de hoje esses fenómenos, acontecidos num mundo bem mais selvagem do que o de hoje.
É um ponto de vista tranquilizador para os descendentes dos que iniciaram no séc. XVI o inferno colonialista. Mas e os outros? Seria assim natural para o escravo ser arrebatado da sua terra e levado para outro mundo completamente desconhecido, para servir e sofrer até ao fim da vida? Seria muito natural estarem, países, cidades, campos e regiões sem defesa, ou em inferioridade bélica, e serem subjugados a ferro e fogo, obrigados a produzir para um inimigo inclemente, se por acaso escapassem ao genocídio? Como contaríamos hoje a história desses tempos se tivessem sido as nossas cidades pilhadas e os nossos avós levados como escravos para o outro lado do mundo?" Ministros da Noite, Livro Negro da expansão portuguesa.
Nada justifica a violência muito menos a barbárie! (Creio que estaremos todos de acordo! Será?)
Sr. Administrador, ponho à sua consideração o encerramento deste fio, pois quanto a mim já se cumpriu no tempo devido, valeu como um despertar das consciências. Talvez valha a pena reabri-lo mais tarde, quando os ânimos estiverem mais calmos.
Sempre a considerar-vos.
Anabela Quelhas (Osíris)
Listagem de alguns autores dos documentos:
" D. Francisco de Almeida" - Vice-Rei da Índia
"Gomes Eanes de Zurara" - cronista do reino
"D Francisco de Sousa Coutinho" - Governador de Angola
"João Álvares" - Jesuíta
" Henrique Paiva Couceiro" - Governador de Angola
"Gaspar Correia" - cronista
" Fernando de Oliveira" - Padre
" Duarte Pacheco Pereira" - navegador
" Diogo do Couto" - historiador
" Duarte Barbosa" - escritor
" Manuel da Nóbrega"- padre
" Padre António Vieira" - missionário
" António de Melo e Castro "- Vice-Rei da Índia
" D. Pedro de Almeida" - Vice-Rei da India
" Mouzinho de Albuquerque "- Militar em Chaimite
" Armindo Monteiro" - Ministro das Colónias
" José Cabral" - Governador de Angola
" Barjona de Freitas" - Governador de Cabo Verde
" Augusto Casimiro" - Governador do Congo Português
" Oliveira Martins - historiador
" Franco Nogueira" - ministro do Estado Novo
" Norton de Matos" - Governador de Angola
" M. Tenreiro Carneiro" - Vereador da Câmara de Moçamedes
" Sebastião Soares de Resende" - Bispo da Beira
" General Carrasco "- comandante chefe do exercito português em Moçambique
" Alves Roçadas "- general
" Kaulza de Arriaga" - general
" António de Spínola" - general do exército português
" Marcelo Caetano" - Ministro do Conselho
" Adriano Moreira" - Ministro do Ultramar
" Oliveira Salazar" - Ministro do Conselho

Wednesday, December 06, 2006

INFERNO COLONIAL (cont)


"Aos pretos de Angola fiz sempre sentir que não admitia nem a desordem, nem vadiagem, nem a falta de respeito aos brancos." (Norton de Matos, "Memórias e trabalhos da minha vida", III vol., 1944) "Devemos organizar cada vez mais eficazmente e melhorar a protecção das raças inferiores cujo chamamento à nossa civilização cristã é uma das concepções mais arrojadas e das mais altas obras da colonização portuguesa." (Salazar, 1933) " Na colonização, como no amor, tudo é grandioso ao começar" (Marcelo Caetano, 1947)
"(Os índios são) verdadeiros seres inumanos, bestas da floresta incapazes de compreender a fé católica (...) esquálidos selvagens em tudo menos na forma humana (...). Se os negros africanos podem ser escravizados, porque não os índios do Maranhão? (...) mesmo que muitos desses miseráveis se suicidassem de raiva como bárbaros."
(Proposta da Câmara do Pará apresentada a Sua Majestade por Paulo da Silva Nunes, procurador do estado do Maranhão, em 1724)
Publicado em www.sanzalangola.com em 12/09/06

Monday, November 27, 2006

INFERNO COLONIAL

"O terrorrista não é um soldado (...). Está mais próximo do assassino do que do militar. Segundo a ética dos exércitos, um combatente aprisionado sem uniforme é fuzilado. Mas é importante fazer prisioneiros.(...)
O terrorrrista deve pois ser interrogado com eficácia. (...)Procedendo desta maneira, nós conseguiremos descobrir onde se esconde a sede do terrorrismo e onde a destruir. Se não obtivermos estas informações, é porque somos incapazes e irresponsáveis.
Deve dar-se-lhes a oportunidade de falarem por sua própria iniciativa. Mas se não o fizerem, será preciso adoptar medidas eficazes que o convencerão rapidamente a colaborar, até ao ponto de ser fuzilado, como a ética militar preceitua, com respeito a todo o combatente aprisionado sem identificação da sua unidade.
Não se procura propriamente torturar, trata-se apenas de uma questão de eficácia. (...)"
(Circular do exército português)
"Todo o português como todo o individuo de outra nacionalidade residente no território português que intencionalmente, por discursos pronunciados em reuniões públicas ou por manifestos, brochuras, livros, jornais, ou outras publicações destinadas a ser vendidas ou distribuídas gratuitamente ao público, difundam falsas informações a fim de demonstrar a existência de escravatura ou de tráfico de escravos nas colónias portuguesas, será punido com multa de 2000$ a 20000$ ou com prisão maior até dois anos, e poderá ainda ser expulso do território português."
(Código de Trabalho dos Indígenas das Colónias Portuguesas da África, 6 de Dezembro de 1928 )
"Num só ponto devemos ser rigorosos quanto à separação racial: no respeitante aos cruzamentos familiares ou ocasionais entre pretos e brancos, fonte de perturbações graves na vida social de europeus e indígenas e origem do grave problema do mestiçamento, grave, digo, senão sob o aspecto biológico, tão convertido (...), ao menos sob o aspecto sociológico."
(Marcelo Caetano, Comunicação à Colónia de Moçambique, por intermédio do Rádio Clube local, 7 de Setembro

Wednesday, November 22, 2006

INFERNO COLONIAL

"Chinteya, uma rapariga de quatro anos, assustada, chora. Um soldado, simulando compaixão, aproxima-se e, acariciando a criança, pergunta-lhe se está com fome. Sem, porém, esperar a resposta, continua: «Toma o biberão.» E, metendo à força o cano da arma de fogo na boca da criança, diz:«Chupa!» e dispara. A criança cai com um rombo na nuca.Não foi Chinteya a única vítima tratada assim; várias outras tiveram a mesma sorte."
(Do relato dos padres da missão de S. Pedro sobre os massacres de Tete de 16/9/72)
"Para um negro que mata um branco só pode haver uma pena cujo efeito seja proveitoso - a pena de morte hoje desterrada dos nossos códigos."
(Mouzinho de Albuquerque."Moçambique, 1896-98, vol II")
"E se pode julgar a máquina de gentio que têm estes reinos (do Congo), pelo que diremos que haverá cem anos que se começou a conquista destes reinos e têm ido um ano por outro despachados deste porto oito a dez mil cabeças de escravos, que são quase um milhão de almas."
(António Oliveira Cardonega, "História Geral das Guerrras Angolanas", 1680.)
editado em www.sanzalangola.com em 8/09/2006

Friday, November 17, 2006


"Manteve-se (...) a escravatura em Angola e noutras colónias africanas quase até aos presentes dias. Encoberta, camuflada, sofismada, ela continuava a existir, e de certo desmereceria se não afirmasse que a fui encontrar sob diversos nomes ou disfarces na província do Ultramar português que, em 1912 e anos seguintes, governei (Angola)."
Norton de Matos , Memórias e trabalhos da minha vida , III volume, 1944

"Como os africanos são os mais lascivos de todos os seres humanos, não será de crer que os gritos que soltam quando os arrancam dos braços de suas mulheres resultam apenas de receio de nunca mais terem oportunidade de satisfazer as suas paixões lá na terra para onde os embarcamos? "
(Panfleto publicado em Liverpool, 1792)

"O que se percebe mal é que o ministro da Defesa, com toda a sua força que resulta das suas funções, não possa por cobro a uma situação que, tarde ou cedo, acabará por se reflectir na energia e coragem com que o povo português tem estado a lutar na guerra que lhe é imposta por inimigos do exterior."
(Sá Viana Rebelo, em Jornal Português de Economia e Finanças, Janeiro de 1973)



" Só seremos capazes de manter um domínio branco em Angola e Moçambique, que é um objectivo nacional, se o povoamento branco for em ritmo que acompanhe ou ultrapasse ligeiramente, pelo menos a produção de negros evoluídos, porque se acontece o contrário, se o povoamento for ultrapassado pela produção de negros evoluídos, então passar-se-ão fatalmente duas coisas: ou instalamos o 'apartheid', que será terrível para nós e no qual não nos aguentaremos, ou teremos governos negros."
(Kaulza de Arriaga, "O problema estratégico português", vol XII das lições de Estratégia do Curso de Altos Comandos)

(continua)

INFERNO COLONIAL

Apresento-vos uma das minhas intervenções no site sanzalangola, a que denominei por INFERNO COLONIAL talvez a mais polémica de todas, que pôs muita gente a pensar, e contribuiu para levar à ebulição, alguns ódiozinhos que habitam nas mentes e nos corações de muitos, e que teimam em permanecer.

Anabela Quelhas


Este é o 3º fio que abro nesta sanzala, e provavelmente o último.
Desde há 3 anos a esta parte, que navego por esta sanzala, espreitando aqui e ali, assistindo a conflitos, a guerrinhas virtuais, makas, bate-bocas, detectando por vezes vestígios de um certo espírito neocolonialista que teima em permanecer no mais íntimo de muitos.
Por diversas vezes senti vontade de abrir este fio, mas contive-me. Agora, chegou a hora!
Somos brancos de 1ª, brancos de 2ª ou mestiços?
Todos nós somos na verdade uma misturada de raças, mestiços do século XXI, descendentes de europeus que partiram à descoberta do mundo, há alguns séculos atrás.
Saberemos bem quem foram os nossos antepassados?
Seremos capazes de assumir sem complexos e de forma inteira esta herança maldita?
O objectivo deste fio não será gerar discussão, diálogos, mas sim de registo, de constatação e reflexão, pois o processo histórico, dizem, que é inquestionável.
Não temos que nos penitenciar, reduzir a auto-estima, temos que saber quem somos e reconhecer o lado maldito deste passado.
Prometo não responder a ninguém, nem ceder, como é meu hábito, a provocações dentro ou fora desta sanzala, caso contrário, este fio seria rapidamente encerrado.
Limitar-me-ei a ir passando por aqui e silenciosamente deixar como registo a transcrição de excertos de documentos. Irei apoiar-me, logicamente em trabalho seriamente investigado, mas pudicamente divulgado.
A ordem cronológica pouco importa, assim como não interessa se o que transcrevo se refere a Angola, Brasil, Índia, Guiné, Moçambique, Cabo Verde ou Timor, até porque
"...o fedor dos mortos na cidade de Mombaça saqueada por D. Francisco de Almeida em 1505 é o mesmo fedor dos cadáveres dos camponeses massacrados a napalm na Baixa de Cassange em 1962 - é um fedor que ainda hoje nos agonia, nos dificulta a respiração como povo"... e nos turva a alma, mas que será capaz de evitar a proliferação de pretensos neocolonialismos e o branqueamento de diversas páginas da história.
Será que esta sanzala estará preparada para simplesmente ler?
(continua)