ARKIVÃO

ARKIVÃO - espaço para reunir o que vou escrevendo ao longo do tempo, e que se encontra espalhado por aí; arkitectura, referências a terra de origem, divagações disléxicas; tentativa de organização, mas sem critério e por vezes sem cronologia; organização anárKica, incompleta, de conversa da treta, assinada através de diversos pseudónimos.... mas nem tudo estará aqui. Anabela Quelhas

Thursday, August 24, 2006

Keridos kandengues - Santiago Calatrava

Certo dia, visitando uma obra de Santiago Calatrava, ia tecendo comentários sobre a mesma, apresentando-a para a família que me acompanhava, especialmente para AQ, uma kandengue já crescida, ainda ante-projecto de arquitecta (doença hereditária pela via feminina).
Mais familiarizada com o projecto, eu evidenciava formas e funcionalidades, alertava para certos pormenores, tentanto rentabilizar ao máximo a oportunidade desta visita, mas esquecendo que HB, ainda muito pequeno, não alcançava o significado desse palavreado abstracto/arquitectónico.
HB ia prestando alguma atenção, mais esmagado com a escala tão afastada do seu pequeno mundo, do que pelo interesse de observador consciente; ia olhando o que podia, nem sempre estabelecendo as relações correctas entre as palavras, o seu significado e o espaço.
Até que referi, o facto daquele espaço ser doptado de equipamento orientador para invisuais, indicando a sua localização, e evidenciando a urgência em facilitar a circulação destas pessoas (sempre esquecidas ou relegadas para 2ºs planos) pelos edifícios e pelas cidades.
HB foi ficando para trás, até que a sua ausência foi notada, obrigando-nos a recuar até ele.
HB mostrava-se contrariado. De olhos fechados, passava teimosamente as suas pequenas maozitas no relevo, do tal sinalizador para deficiêntes visuais.
- Ela fala, fala... diz que isto é para os cegos verem, e eu não vejo nada! Afinal o que é eles vêem? Eu não vejo nada!!!
Moral da estória: Nem Santiago me vale, muito menos Calatrava!
Mãe Osíris (Bjinhos para todas as crianças do mundo)
editado em www.sanzalangola.com em 29/01/06

Tuesday, August 22, 2006

A guerra das cidades (conclusão)


A guerra das cidades (conclusão)


Luanda além de ser morfologicamente bonita, fotogenicamente bela, tem história, tem cheiro, tem contrastes, tem sentimento, tem sangue nas veias, é o ortocentro de África... e é essencial que contenha a minha infância e adolescência, para que se converta numa expressão matemática Verdadeira, traduzida nos eixos xis e ipsilone dos meus afectos, através de uma curva parabólica que supostamente deveria limitar um oceano, mas que afinal se circunscreve apenas no eixo z. Complicado?... afinal a terra é redonda!...
é o cordão umbilical a gritar mais alto!

...são as corridas de criança por entre os mangais,
...é a flor de acácia no cabelo,...é a pesca à linha na Restinga,
...é o churrasco no Kuanza,
...são os meninos do Panguila,
...é o preto Jerónimo (1),
...são os mergulhos na Barracuda,
...é a turma da Vila Alice,
...é a esplanada do Mónaco,
...é o gelado na SAPU,
...é o lanche na Versailles,
...é a onda inesquecível do pessoal da rádio
...é o merengue mornamente dançado,
...é a musica da Bonzão,
...é a desatada da sangria,
...são os westerns do Kipaka
...são as estreias do Império,
...é a Fuentovejuna no Avenida,
...é o figo da índia da Eugénio de Castro,
...são as apaixonites da Combatentes,
...é o beijo no Miramar,
...são as meninas LGL nas suas minis,
...é o abandonar do soutien,
...é a idade das escolhas e da politização,
...é o poster do Che,
...são as novidades vindas de Paris,
...é a Alliance Française,
...são os carrinhos de rolamentos
...é a rampa das Ingombotas
...são as idas ao fardex da Casa Branca,
...é a matacanha no dedão,

...é a subida ao coqueiro,
...são os livros proibidos,
...é o Carnaval na marginal,
...são as esperas no aeroporto,
...é o aroma forte de fuel de avião,
...é o jogo do abafa,
...Oi JACARÉ, JACARÉ
...é o néon da Tamar,
...é o rock dançado na Adão,
...são os autógrafos na Tara,
...é o imaginário do BO,
...é o observatório da Mulemba,
...é a colega Vandunem,
...é o aterrar constante dos helicópteros
...é o hospital militar,
...são as loiras do Punta del Paso,
...são as calças com boca de sino
...é o missionário italiano,
...são as queimadas de capim,
...são as visitas a Massangano,
...é a estrada de Catete,
...é o cheiro do Cacuaco,
...é a Dodge estacionada,
...é a gincana do 9 de Junho
...é uma osga no tecto,
...é o camaleão na parede,
...é adrenlina em cima de um Buggy,
...são as BDs em 2ª mão,
...é a dança do Jacob (2),
...é o prego do Majestic,
...é a rebita na cubata do Gasolina,
...éhh bananéeee, bananéeee!!!!
...é a muamba do fundo de quintal,
...é a conversa com Segunda Jamba (3),
...é o misturar de areia e cimento numa obra qualquer,
...é o esticar do aço no Kikolo,
...é a moagem da farinha,
...é o desconfiar que nem tudo corre bem,
...é o despertar da justiça social,
...são os Vampiros proibitivamente escutados,
...é o sapato mata barata ao canto
...é o arame farpado do Grafanil,
...é o desfilar da quitandeira,
...é o adorno de missanga,
...é o cigarro fumado para dentro,
...são os temperos de Beatriz(4),
...é a buganvília laranja,
...é a girafa embalsamada do museu,
...são os aceleras na rotunda da alameda,
...é a saída das traineiras,
...são os snipes na baía,
...são os calcinhas de Luanda,
...é a Sra. da Muxima,
...é a formiga salalé,
...é a terra vermelha na sapatilha,
...é a lixeira a céu aberto,
...são as cascas de banana no chão do porto,
...é o sinaleiro da Mutamba,
...é o suor da 1 hora da tarde,
...é o magro salário de Gingolita(5),
...é o prédio azul da Cuca,
...é o poeta visitado na cadeia,
...é o jogo da bola sobre a areia,
...é o cacimbo de Agosto,
...é o espreitar de uma varanda,
... o despertar da puberdade,
...é o "je t'aime moi, non plus",
...é o óleo de dendém,
...são as montanhas de laranjas,
...são as fotos de Catalacassala,
...é a água do Bengo,
...são as enxurradas nas Barrocas,
...é a conversa mole de Conceição(6),
...é trepar a um coqueiro,
...é a alforreca da Corimba,
...é a caldeirada ao domingo,
...é a sombra dum cajueiro,
...é chupar cana no mercado de S. Paulo,
...são as makas do bairro Prenda,
...é o sangue negro igualmente vermelho,
...é a goma do kiabo,
...é a casca da ginguba,
...é gindungo na vez do sal,
....é o amor de coração aberto
....é o tempo que não volta nunca
e por isso me atrevo a localizá-lo numa cidade bela.

Depois há aquele ditado: quem feio ama, bonito lhe parece!
Serão os sentidos que procedem às escolhas?
O registo saudosista pode entorpecer a mente...

...acabo o chá, que já esfriou!

...afinal, todas as cidades são bonitas pois inscrevo nelas o melhor de mim.

(1) Jerónimo - preto de Luanda, limpador de escadas dos prédios dos brancos, sempre atencioso para as crianças.
(2) Jacob - ilustre papagaio, verdadeiro multiplicador de sons, autor de diversas zaragatas animais no bairro Salazar.
(3) Segunda Jamba - preto bailundo de pés duros, esclarecido politicamente, consciente do seu desempenho proletário, e que primeiro (precocemente, talvez) me fez reflectir sobre as assimetrias sociais.
(4) Beatriz - preta quase cega, sem idade definida, óptima a cozinhar e dona de um lindo sorriso, mesmo que desnudado de dentes.
(5) Gingolita - operário de sol a sol, descendente de escravos embarcados para o Brasil, timidamente honesto, humildemente trabalhador fabril.
(6) Conceição - o preto mais malandro de Luanda, gingão, homem de muitas mulheres e de múltiplas dívidas.
(Uma pequena homenagem a todos eles)

Anabela Quelhas

Casa Hundertwasser


Hoje vou partilhar convosco uma experiência arquitectónica, invulgar, exótica e quase única!

Casa de Hundertwasser - a encomenda da Câmara Municipal de Viena ao artista plástico Hundertwasser, possibilitou a concretização da sua utopia.
Hundertwasser é um artista, mas não é demente como se poderá deduzir à 1ª vista - é um grande pensador e por vezes até moralista.
A Câmara de Viena ao pedir a Hundertwasser que construísse um lote de habitações sociais na esquina de Lowengasse, não se dirigiu a um arquitecto, mas a um mercador de felicidade, encomendando-lhe uma série de espaços felizes.
Consultem:HUNDERTWASSER - o pintor das cinco peles, TASCHEN (vale a pena entrar no mundo deste senhor!)
A Casa de Hundertwasser foi inaugurada em Setembro de 1985, o sucesso em termos de curiosidade suscitada foi enorme: dizia-se que 70.000 habitantes aguardavam em fila para a poder visitar.
A reacção favorável dos habitantes tem vindo a aumentar ao longo dos anos posteriores. A procura por apartamentos neste lote é 6 vezes superior à oferta, porém não se admitem ricos."Casa de Hundertwasser é refém do seu próprio sucesso. Tornou-se a imagem de marca de Viena pós-moderna, e os seus habitantes queixam-se o ano todo apenas de uma coisa: da invasão de turistas que desembarcam de camionetas repletas. "

anjos e mamíferos


Nota prévia - HB - sigla do kandengue. Qualquer semelhança com características de minas de riscar, não é defeito profissional, é mesmo pura coincidência.

HB era criança, entre o bébé e a idade escolar, e a mãe - eu - cheia de vontade de concretizar aquela teoria, que afirma, que as crianças têm uma inesgotável capacidade de aprendizagem, mesmo antes de irem para a escola.
Assim, quando estávamos juntos, eu ensinava-lhe mil e uma coisas! A hora do banho era sagrada! Repetia-se o ritual, dos bonequinhos na banheira, e repetia com ele, tal como uma lenga-lenga, a listagem dos mamíferos, aves, répteis, insectos, peixes e batráquios!
...por essa época, indo passar uns dias de férias de verão, na nossa casa de campo, que temos a sorte de possuir no chamado "Portugal profundo", o HB manifesta vontade de integrar uma procissão religiosa, que na aldeia fazem anualmente.
Atenção que o HB nem sequer sabia o que era uma procissão, já que a sua vivência sempre se desenvolveu um pouco distanciada dos cultos religiosos ....ouviu falar os amiguinhos mais velhos lá da aldeia, que preparavam antecipadamente o acontecimento, e cheirou-lhe a algo divertido, e desconhecido - agradou-lhe!
Nessa aldeia, existe o costume de vestir as criancinhas de figuras religiosas (anjos, santos e santas) para construir a tal procissão.
Uns dias antes, foi necessário levá-lo à casa que alugava o vestuário adequado, para tal a representação - para o HB escolher o que queria, e adaptar às suas pequenas medidas.
Perguntaram-lhe qual a roupa que desejava. HB desconhecedor do estilismo religioso, estava indeciso, ou melhor, sabia lá ele, o que queria!
Levaram-no para a sala de provas e passearam-no pela mão, por diversos expositores com muitos cabides vestidos e respectivamente aderessados, explicando-lhe a que santinho pertenciam.
HB sentia-se indeciso e perdido, pois aquilo era um mundo completamente abstracto para ele.
Sugeriram-lhe para ele se vestir de anjo!
- Olha vais de anjinho que é tão bonito, todo de branquinho!!!
....HB quis saber bem o que aquilo era, pois ia vendo só túnicas, vestidos e mantos... abandonar os seus calções, estava a perturbá-lo!
- O que é o anjo e a roupa dele? pergunta HB.
- Um anjo leva uma túnica branquinha e tem duas asas .....- responderam-lhe as simpáticas senhoras.
HB rejeitou de imediato! Asas? Asas não! Não, não podia ir de anjo, pois era mamífero e os mamíferos não tem asas, nem bico, portanto anjo, definitivamente, não! Estava fora de questão!
Moral da estória - nem sempre o conhecimento científico trás felicidade, às vezes transforma-se em factor inibidor de experiências. Quem sabe se HB tinha destino já traçado neste mundo de anjos e arcanjos terrestres, e que acabou sendo boicotado por esta mania da mãe ensinar o que não deve?::::
Mãe Osíris (bjinhos para todas as crianças do mundo)

Thursday, August 17, 2006

A guerra das cidades (continuação)


O que nos faz gostar menos de uma cidade?
A ausência de limpeza do espaço colectivo?
As cores do pôr-do-sol espelhadas nos vidros das janelas?
O cheiro das lixeiras?
Os desamores que lá se vivem?
O tempo que se perde sentado a um volante?
Porque se gosta mais desta do que aquela?
Consegue-se conversar com umas e não se consegue escutar as outras?
Como funciona isto?
A diferença estará nas pessoas que lá habitam, os seus usos e costumes?
Ou será uma questão de pele, propositadamente irracional, que mexe com os cinco sentidos, os nossos?

Será o apelo do cordão umbilical que nos pressiona a construir raciocínios ausentes de lógica, indicadores de opções profundamente sentidas, e emocionalmente paradigmáticas?
Já estou como o outro… já fui muito feliz em Vila Nova de Mil Fontes!
Eu já fui muito feliz no Porto, em Coimbra e em Lisboa… LOLOLO. Tento sempre ser feliz em Barcelona, imagino-me feliz em Sounion, fui ingenuamente feliz em Luanda.
Espreito a felicidade sempre que transformo algo, numa existência renovada… …toque de Midas? …uffff nem tanto…
Será uma soma de tudo e ou de coisa nenhuma?....
(cont.)

A guerra das cidades



A guerra com que se entretêm e divertem os meus vizinhos sanzaleiros, faz-me recordar aquela pequena guerra:

- o meu Porche é melhor que o teu… mas eu também tenho um Mercedes Benz, um Matra Sinca e um Lamborghini…

que afinal não nos leva a rigorosamente nada! No entanto é uma guerra saudável porque nos faz despertar as inquietações e as emoções que nos ligam aos lugares, aos sítios, às ruas… que por coincidência ou não, se centram num país, único no mundo, ANGOLA.

O que nos faz apreciar mais uma cidade do que outra?
Opção puramente estética?

O equilíbrio existente ou não, entre os espaços construídos e os espaços livres?

A ortogonalidade característica da malha urbana das cidades tipicamente novas?

A arquitectura orgânica ou a arquitectura planeada?

A toponímia?

A gastronomia?

O futebol?

As árvores que sombreiam as ruas?

A história que emerge em cada esquina?

Serão estes os parâmetros que nos fazem oscilar entre os conceitos de o mais ou menos bonito?


… bebo serenamente o meu chá verde, gostosamente lapis lazúli…


Cidades – povoações de maior categoria de um país, áreas urbanizadas, mais áreas mais densamente povoadas, ….

(cont)

As cidades - poesia


Construção Chico Buarque - 1971 (mas sempre actual)
Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego
Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho seu como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado
Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego
Sentou pra descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo
E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público
Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contramão atrapalhando o sábado

A arquitectura e as cidades

O urbanismo, a arquitectura, a saúde, a economia, o ambiente, e muito + dependem em 1º lugar da vontade polítca de construir algo positivo!
O urbanismo é uma área que logicamente mexe em muitos interesses, estuda a transformação das cidades e aponta soluções para problemas de organização e planeamento de território, mas prevalece sempre o interesse do poder instituído, que se serve dos técnicos do urbanismo e não só, para almofada de certas incongruências e desrespeito por certos compromissos assumidos perante os cidadãos.
É confortável e fácil atirar a culpa para o urbanista.
Acho que estamos todos de acordo, que prioridades são proridades e ponto final! No entanto as respostas às prioridades que obrigatóriamente têm de ser executadas, para atender às necessidades básicas de todos, devem ser bem planeadas, pelos a médio prazo, para resultar em algo positivo e racional. Se não for assim, passamos a vida a "fazer e a desfazer" - atitude que se desenha sempre mais dispendiosa, certamente!
A arquitectura, é uma área artistica (sempre foi), mas não superflua. Pelo seu conteúdo, relaciona-se com tudo o que diga respeito às pessoas, e à forma de habitar e viver o espaço.
Beleza, funcionalidade, economia, sociologia, ergonomia e ambiente, não podem viver zangadas, de costas voltadas, ignorando-se mutuamente! É dificil conciliar interesses? Claro que é! Soluções perfeitas não existem!... já é bom estar-se no caminho certo, lutar o mais possível pelo direito à dignidade de cada um, e, não optar por atalhos fáceis, com consequências não planeadas ou imprevisiveis, que afetam todos.
Voltando ao património - é importante, desenvolver nos cidadãos, o conhecimento e depois o amor pelo património das suas cidades - lutar por ele (veja-se o exemplo dos holandeses) - sejam elas, Luanda, Londres, Rio de Janeiro ou Xangai. O património arquitectonico, é uma referência cultural de todos, só que é muito mais fácil preservar mùsicas, objectos, danças... ocupam pouco espaço, e não interfere com tantos interesses financeiros. Especificamente, importa "moldar" consciências e desenvolver vontades, por forma a evitar que se cometam atrocidades em nome de falsos progressos, inseridos nesta sociedade de consumo global.
Fernando e Tomás, o "belo" não tem que ser obrigatóriamente dispendioso, nem pular por cima dos direitos fundamentais do ser humano.Penso que estamos de acordo.
Um abraço
Anabela
editado em www.sanzalangola.com em 24/01/2006

Noite

Noite

Eu vivo
nos bairros escuros do mundo
sem luz nem vida.

Vou pelas ruas
às apalpadelas
encostado aos meus informes sonhos
tropeçando na escravidão
ao meu desejo de ser.

São bairros de escravos
mundos de miséria
bairros escuros.

Onde as vontades se diluíram
e os homens se confundiram
com as coisas.

Ando aos trambolhões
pelas ruas sem luz
desconhecidas
pejadas de mística e terror
de braço dado com fantasmas.

Também a noite é escura.

(Sagrada esperança)
Agostinho Neto

editado em www.sanzalangola.com em 24/01/2006

Saturday, August 05, 2006

À procura da linha recta que é curva

Cheguei toda artilhada!
Trouxe papel e lápis,
os compêndios de matemática
e de geometria,
régua, esquadro e compasso.
Tudo num braçado!
O transferidor também.
Não venho tomar sol, não!
Nem venho mirar as estrelas.
Hoje vou olhar mesmo a areia.
Não trouxe o computador
pois é coisa que talvez
não combine com esta praia.
Me vou concentrar na areia
e tentar espreitar o zulmarinho
lá no outro lado,
onde o contador destas estórias
diz que a linha recta é curva.
Não vou espreitar caminhando sobre o diâmetro,
mesmo na ortogonal a mim…
Nãaaaa,!!!!!
… iria parar na Nova Zelândia,
e dar de caras com o irmão deste nosso zulmarinho!
Eu vou caminhar na corda da esfera
mesmo que esteja bamba,
paralela ao tal de diâmetro,
secante à tal de curva
linha do horizonte
De todos os tempos.
E vou medir meus passos.
Nos senos e cosenos,
nos logaritmos,
nos ritmos dos logares
na raiz quadrada
quase potência, ao contrário
desta trignometria
feita de ar, água e terra.
E então e o fogo?
O fogo é a tocha
enterrada na areia do Mussúlo,
lá… onde irei espreitar,
virando a saudade num quadrângulo.
……

Hoje resolvi escrever em carreirinha
Mesmo sem ser poema.
Em coluna, se quiserem!
Apenas por habituação algébrica
Na conta de somar sonhos.

Ana d’Or

Editado em www.sanzalangola.com
Editado em http://www.sanzalando.blogspot.com/